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sábado, 29 de maio de 2010

A imprensa e o apodrecimento moral

"E a sua indignação alargava-se, do foliculário que babara aquilo - até à sociedade que, na sua decomposição, produzira o foliculário. Decerto toda a cidade sofria da sua vérmina... Mas só Lisboa, só a horrível Lisboa, com o seu apodrecimento moral, o seu rebaixamento social, a perda de bom senso, o desvio profundo do bom gosto, a sua pulhice e o seu calão, podia produzir uma «Corneta do Diabo»

Eça de Queiroz, in Os Maias

quarta-feira, 19 de maio de 2010

com certeza que sim


Daniel Rozin's Weave Mirror

Tenho pena que assim seja. Pois, mas terá de ser. Compreendo perfeitamente, mas não pode esperar que esteja satisfeito. E não está? Não, de maneira nenhuma... E de forma? Forma talvez, mas não hoje com certeza... Ontem quer ver? Como adivinhou? Talvez, por vezes, ontem ocorre-me de passear. Por onde? Qualquer sítio serve... Qualquer sítio? Qualquer sítio é agradável.... Pensa assim? Assim penso. Compreendo perfeitamente, mas não pode esperar que esteja satisfeito. E não está? Claro que estou... Mas não disse?!... De que interessa o que eu digo? Não é um bicho falante? Mais ou menos... Nem sempre? Nem sempre... E quando não o é o que é? Um peixe... Compreendo perfeitamente, mas não pode esperar que esteja satisfeito. E que é que você tem a ver com a minha vida? Absolutamente nada, nem quero saber... Então porque fica insatisfeito? Não fico, mas também não fico satisfeito... Não mexe consigo? De maneira nenhuma. Compreendo perfeitamente, mas não pode esperar que esteja satisfeito. Eu se estivesse no seu lugar estaria, sem preocupações, sem obrigações, tem todo o mundo à sua frente. Pois, talvez tenha razão, mas quem lhe diz que não tenho preocupações, ou obrigações. Se as tem faleça com elas...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Calma



É complicado no meio da tempestade arranjarmos um momento de calma. Quando o arranjamos desperdiçamo-lo com nada. E é para isso mesmo que servem os momentos de calma: para fazer nada, para pensar nada, porque o nada é nos incrivelmente indispensável, e vem sempre ter connosco, quer seja no meio da tempestade quer seja nos momentos de calma... Por isso, que seja nos momentos de calma. Como este. OH, como está calmo o céu! Quão belo! Também está calmo de mais... começo a me aborrecer!

domingo, 16 de maio de 2010

The Imaginarium of Doctor Parnassus



Um bom filme. Muito confuso, saímos sem perceber se apanhamos tudo ou não. Talvez por isso mesmo, seja um grande filme. Talvez, neste não me arrisco a dizer que é grande filme, não sei o que pensar...

A ouvir #40

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Why is there hunger?


Lack of food is not the problem. Enough food is produced in the world today for everyone to be properly nourished and lead a healthy and productive life. Hunger exists because of poverty. It exists because natural disasters, like earthquakes, floods and droughts, sometimes occur in places where poor people have little or no means to rebuild once the damage is done. It exists because in many countries women, although they do much of the farming, do not have as much access as men to training, credit or land. Hunger exists because of conflict, which takes away any chance people have to earn a decent living and feed their families. It exists because poor people don’t have access to land or solid agricultural infrastructure to produce viable crops or keep livestock, or to steady work that would otherwise allow them access to food. It exists because people sometimes use natural resources in ways that are not sustainable. It exists because there is not enough investment in the rural sector in many countries to support agricultural development. Hunger exists because financial and economic crises affect the poor most of all by reducing or eliminating the sources of income they depend on to survive.

http://www.1billionhungry.org/

corre

corre, corre... não sabes para onde? corre sem direcção... como no Forest Gump, que eu já vi, mas só lembro o "Run" e a corrida...então corre como ele, sem direcção, sem caminho, sem traço no chão... cuidado ao correr, podes flutuar e voar, por vezes acontece a quem corre demasiado... não corras tanto, podes-te magoar. mas porquê correr, senão para atingir o céu, para ultrapassar a única barreira que homem nenhum vivo ultrapassa sozinho... e eu tenciono ultrapassá-lo... já embalei lá de trás, mal será se não o fizer. no topo da casa mora uma criança doente. bato à janela aceno-lhe, e digo adeus... e ela corre atrás de mim. e todo o mundo correrá atrás de mim. só por um momento. muito breve, enquanto quem toma café se esquece das mesas, cadeiras, do café, e vem atrás. enquanto homens e mulheres esquecem quem são e deixam de escravizar, mental, física e socialmente, bichos e bichas, e todo o mundo corre atrás de mim. cães, gatos, lebres, o borrego do almoço, que viveu preso numa grade de pau, e depois, ainda criança foi morto. e o homem é justo, e o homem é bom, e o homem é superior aos animais, e eu utópico, e eu bom, porque eu não desses... mas não, não consigo suprimir-me, a mim, ao eu carnívoro maléfico filho da mãe, de forma que o borrego atrás de mim também, mas já assado, com batatinhas a acompanhar. é curioso como na cabeça cabe tanta coisa, mas não é curioso coisa nenhuma, porque foi Deus. Deus grande, e conhece o Papa... importante seja quem conhece o Papa, que come criancinhas, ou será que só protege quem as comeu, mas será que só perdão, ou incentivo? pecado, ou perdão? qual será. eu falo com Deus, ele envergonhado com padres e homens comuns, que esqueceram quem ele era... e homens de costas voltadas, e homens que escravizam... esses homens que agora correm atrás de mim, com o borrego, as batatinhas, e o Forrest e os padres, e Deus, e tudo que me cabe na cabeça... corremos todos, de alma dada em direcção ao sonho, à utopia, à paz... já é tarde, se calhar chegamos atrasados.

domingo, 9 de maio de 2010

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A ouvir #38

13

nunca fui supersticioso, mas então gato preto, e mais um, e mais um. números que se repetem, parece que dizem
-olá...
e eu assustado viro as costas. não me interessam superstições vulgares, 13 azar, 13 não azar, número bonito que lhe brilha nas costas com brilho (passe-se o pleonasmo), e antes dela outra, e antes provavelmente outra ainda, mas beleza, e não sei se amor.
- o amor é feito de superstições
disse alguém e ouvi a minha voz seca, cega de beleza, provavelmente era ela.

nunca fui supersticioso, mas quando se não tem respostas elas parecem cair do céu como sinais. ora uma estrela cadente, ora chuva, ora cocó de pássaro, ora escarro de alguém no andar de cima. mas chega sempre algo. às vezes chega enganado, não é para nós
-ouviste?
não, não ouvi... provavelmente voou
-provavelmente voou?
sim, o meu barco, mas como estás a falar comigo?
-não sei, às vezes ouço vozes, sinais... e a propósito de quê é que estavas a falar de barcos que voam...
é o meu barco. é um barco-mosca.
-capitão Haddock?
sim
-é um sinal para mim?
não, é para um tal de Jorge
-ah, desculpe.
de forma que muitas vezes sinais enganados, e talvez por isso que eu não supersticioso.

nunca fui supersticioso, e no entanto tremo quando vejo esse número, lembro-me de imagens, futuros, passados, superstições, medos, tremores, sonhos, tudo meros relances. e já nem me lembro quem és

sábado, 1 de maio de 2010

só os vegetarianos são puros e nobres


Dawn, de Irwin Romain Jules Arthur @ Flickr


há já 5 horas, mas como se muitas mais. fogo, calor, no silêncio das palavras.
-olá paixão!
-amo-te coração!
não parece discurso de podridão?
não é discurso é paixão.
-pareces-me bela
-pareces-me céu
e tudo enorme, tu forte, tu podre, tudo carne.
-amor!
não amor aqui... é só fogo, carne, podre, paixão, coração, sangue, suor, sémen, saliva, talvez outros fluidos, é tudo. tudo. tudo. mas não amor. não... esse lá fora na rua, ao frio. porque amor frio.
-nada interessa!
julgo amar-te
-só o agora!
para sempre
-talvez este momento viva para sempre!
mas não se apaga todo o fogo?
silêncio
paixão
e outras coisas metidas ao barulho, enganados. metidas ao silêncio. olhar longe, e toda a carne em mim fogo.
e tudo cinzas, tudo achas, tudo podre, tudo carne que apodrece com as moscas, vermes e abutres. tudo paixão. amor não

liberdade nunca é demais

liberdade nunca é demais. nunca. temos a liberdade de matar, roubar, dizer o que quisermos, cometermos qualquer atrocidade que nos apeteça. assim como depois a guarda tem a liberdade de nos prender. tem mesmo liberdade para nos prender sem motivo. depois haverá alguém com liberdade para desencadear um processo por incompetência ou coisa do género.

a liberdade nunca é demais. o que fazemos com ela sim, pode ser demais. mas isso compete-nos a nós decidir


"Liberdade, em filosofia, designa de uma maneira negativa, a ausência de submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano. De maneira positiva, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. Isto é, ela qualifica e constitui a condição dos comportamentos humanos voluntários." wiki