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terça-feira, 8 de junho de 2010

O sentido da vida: trabalho para filosofia


quadro de René Mgritte, Homesickness

Curiosa realidade a existência. Inexplicável talvez. Por vezes imagino um mundo lógico, e nele apenas uma coisa é patente: o nada. Tudo o que não seja nada é algo complexo e muito pouco lógico, que provavelmente não deveria existir (só o nada pode existir: curiosa e fortuita negação). Curiosa a condição humana, que, por estar condenada a um início e um final, estranha o eterno e o etéreo, não o concebendo de outra forma que não a do nada.

O sentido da vida é bastante claro: a morte. Se a tomarmos por uma estrada e compreendermos que começa no nascimento e termina na morte, vemo-lo claramente. O que há antes e depois da vida? Acredito seriamente que é a inexistência. Acredito seriamente que o sentido da vida é a inexistência. A vida tem como finalidade a inexistência.

Maldita sorte que nos põe no rumo de algo que não desejamos. Nem sempre queremos existir, mas tememos com todas as forças que temos a inexistência. Por isso surgiram os Deuses e as religiões, os livros e a arte: para ouvirmos uma não verdade (que não é necessariamente mentira) e para nos fecharmos num admirável novo mundo. E ainda bem que surgiram.

Tudo depende da perspectiva através da qual vemos o que quer que seja. Eu acho que o facto de o sentido da vida ser a inexistência é extremamente libertador. Como poderemos nós falhar? É impossível em teoria (não digo que o seja na prática porque não é possível provar tal coisa) um ser humano não chegar à inexistência. Isto significa muito simplesmente que ao nascermos já garantimos o objectivo da nossa existência. Que é que isto significa? Liberdade! Podemos ser o que quisermos, não temos de fazer absolutamente nada. Tudo o que temos de fazer é morrer um dia, e isso está-nos à partida garantido! Temos essa liberdade, e a liberdade acaba por ser o nosso sentido de vida: temos de ser livres, o quanto quisermos!

O nosso destino está traçado, mas não o itinerário… E eu vejo nisso a maior bênção de todas: sabemos como é o final, mas o resto está inteiramente por nossa responsabilidade. Temos limitações físicas e psicológicas? Temos, mas temos também imensos espaços vazios em nós que podemos preencher, ou deixar vazios, como muito bem entendermos. Gosto também de pensar na inexistência como a liberdade total, gosto de pensar que a inexistência, pouco mais é que uma existência sem limites, mais etérea, mais perfeita, e que por isso, quando morrermos vamos entrar numa outra dimensão, quando nos desprendermos do corpo, da alma, da mente, de tudo: a dimensão do nada, a dimensão do lógico.

Não tenho medo da inexistência, é ela que nos dá um motivo para existir: sermos livres (temos de estar preparados para quando passarmos a existir sob a forma de nada) para explorarmos todos os mundos possíveis, impossíveis, lógicos ou absurdos. A inexistência que um dia teremos (ou seremos?), dá-nos um motivo para sermos humanos.

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